Rodovia BR 101 - Bahia
(Foto de Arquivo Pessoal)
Era junho de 2013, eu nunca tinha
viajado para tão longe de moto. Era um daqueles momentos, que a gente precisa se encontrar e achar algumas
respostas. Embarquei totalmente desprovida de medo e com muita vontade na minha viagem interna. Eu tinha uma moto, experiência e a ideia
de ir do Rio de Janeiro até Sergipe sozinha tomou conta de mim. Alguns muitos, me chamaram
de louca e eu apenas me considero criativa hehe!
Conheci pessoas e algumas mulheres que
viajaram de moto para longas distâncias, não lembro ninguém que tenha feito de
maneira independente, mas estou certa que não é algo novo. Primeiro
passo, foi pensar em todas as opções para fazer a viagem da maneira mais segura
possível. Eu tinha GPS e um mapa; macarrão para remendos dos pneus e um manual
de primeiros socorros para moto. Já tinha me aventurado algumas vezes
mochilando para lugares próximos, então minha ideia era encontrar um camping em
cada lugar que eu parasse até chegar em Sergipe. Quem viaja de moto, sabe o
quanto é cansativo, então eu estava decidida a rodar apenas 400 km por dia.
Sempre que eu lembrava como era meu dia a dia no trânsito da “cidade maravilha
purgatório da beleza e do caos”, pensar em sair do estado de moto me parecia
bastante seguro e tranquilo. Eu estava motivada, tantas mulheres já o fizeram,
em uma rápida busca na internet encontrei várias histórias. Fiz um pequeno
roteiro, nada muito elaborado, talvez um pouco pela falta de experiência com
longas viagens; mais pra frente percebi que a falta de planejamento foi minha
melhor decisão.
Bahia
(Foto de Arquivo Pessoal)
SANA - RJ
Decidi não sair muito cedo de casa neste
primeiro dia, já que até Macaé a distancia é de apenas 150 km e este caminho eu
conhecia muito bem. Saí por volta das 11h, meus vizinhos olhavam com curiosidade para a quantidade de bagagem na moto. Aos 30 minutos, me deparei com meu primeiro grande
desafio, passar pela ponte Rio-Niterói de moto; eu, minha factor e meu corpinho
magro, contra os ventos do vão central. Correu tudo bem, apesar de eu ter ficado
relativamente nervosa após. No final da ponte, me pareceu quando olhei pelo
retrovisor, que minha barraca estava desamarrando. Dei uma parada em um recuo
de ônibus para apertar a aranha. No momento que eu desci da moto e pus o tripé,
a moto tombou com o peso, e toda bagagem se desamarrou e veio ao chão. Fiquei
ali olhando aquela cena sem acreditar, mas o sol quente não me deu tempo.
Levantei a moto já sem a bagagem e me pus a organizar e amarrar tudo novamente.
Alguns quilômetros depois, cheguei a um dos meus lugares preferidos, o Sana; e
dessa vez estava bem frio. Desamarrei novamente toda bagagem e armei minha
barraca no camping já conhecido. Conversei com 2 vizinhos de barraca, fui no
bar em frente beber sozinha e em seguida fui dormir. Sentia-me muito cansada no
dia seguinte e decidi permanecer no Sana mais um dia. Era um dia atípico,
bastante chuvoso, gastei meu tempo curtindo a natureza e sua tranquilidade.
(Foto de Arquivo Pessoal)
VILA VELHA – ES
No dia seguinte acordei bem cedo, levantei
acampamento e parti para Vitória; o dia no Sana amanheceu lindo, o sol brilhava
apesar do frio. Era o primeiro dia que eu ia percorrer 400 km de uma só vez, era exatamente essa
distância até Vitória. Fui parando a cada 100 km para descansar o corpo e
algumas vezes para abastecer. A cada parada, eu sempre ouvia "é uma mulher" cada vez que
eu tirava o capacete. Vários curiosos querendo saber para onde eu estava indo
com toda aquela bagagem, de onde eu estava vindo e relativamente bem surpresos
por ser eu mulher e estar sozinha. Correu tudo bem, exceto pelo fato de eu ter
me perdido um pouco chegando à cidade porque o GPS descarregou. Parei para
pedir informação e eu já estava na Praia da Costa, em Vila Velha. Fui
conversando com alguns transeuntes sobre a possibilidade de acampar na praia, mas
não rolou. Então eu voltei pela mesma avenida que eu tinha chegado até a praia
e encontrei uma pousada. A pousada não tinha uma calçada plana em frente,
quando parei a moto para obter informações aconteceu novamente, a moto tombou
mais uma vez. Coletei toda minha bagagem, decidi dormir nesta pousada, pensando
como eu resolveria o problema do peso na moto, no dia seguinte. Tomei um banho
dos deuses e apaguei.
(Foto de Arquivo Pessoal)
SANTA LEOPOLDINA - ES
Era domingo, acordei em Vila Velha com outro
dia lindo de sol, arrumei minha bagagem no posto de gasolina que ficava ao lado
da pousada e coloquei na mochila algumas pedras que me ajudariam com o peso da
moto. Nas minhas pesquisas antes de viajar, eu tinha encontrado uma cachoeira
que fica dentro de uma pousada/ camping em Santa Leopoldina. Caminho relativamente curto até lá, apenas 50 km, porém os últimos 24 km, de uma estrada de barro bem esburacada.
Acabei fazendo este trajeto em um tempo muito maior, porque tive que percorrer
os 24 km a 20km/h. Lembro bem do visual maravilhoso que esta estrada tinha, mas nesta altura, meu celular tinha parado de funcionar e eu não tenho fotos desse local. Eu tinha somente uma câmera que funcionava com pilhas, e eu não tinha as pilhas. Bem, não foi uma viagem muito favorável para fotos, diferente das viagens seguintes. E falando em fotos, minha máquina já com pilhas, gastei boa parte do meu tempo nas rodovias, no meio do nada, em lugares sem nenhum sinal de vida humana, tirando fotos dos lugares mais maravilhosos que eu já tinha visto. Viajar de moto permite visualizar melhor a natureza, e digo com a experiência de quem viu com os próprios olhos, a natureza é algo realmente apaixonante e fascinante; de uma maneira que em algumas curvas meus olhos enchiam de lágrimas de tão maravilhoso. Bem, quando digo sem nenhum sinal de vida humana, estou excluindo os veículos, tirar fotos com o capacete era uma coisa, mas sem o capacete, com os cabelos ao vento, era a certeza de ouvir muitos buzinaços.
Eu não tinha feito nenhum contato com a pousada/ camping previamente, quando cheguei lá, já no final do dia, os últimos hóspedes estavam indo embora (provavelmente indo embora depois de um final de semana inteiro lá); o caseiro me disse que costumava dormir em casa, e sua casa ficava a alguns quilômetros dali, caminho que ele fazia de bicicleta; tudo bem então, eu não tinha opção. Fiquei completamente sozinha em um camping desconhecido, em um lugar desconhecido, no meio do nada. O caseiro gente boa até me ofereceu um quarto para que eu me sentisse mais segura, mas o céu e as estrelas daquele lugar me pareceram tão mais bonitos, que eu preferi dormir com essa vista... logo adormeci ouvindo os grilos.
Eu não tinha feito nenhum contato com a pousada/ camping previamente, quando cheguei lá, já no final do dia, os últimos hóspedes estavam indo embora (provavelmente indo embora depois de um final de semana inteiro lá); o caseiro me disse que costumava dormir em casa, e sua casa ficava a alguns quilômetros dali, caminho que ele fazia de bicicleta; tudo bem então, eu não tinha opção. Fiquei completamente sozinha em um camping desconhecido, em um lugar desconhecido, no meio do nada. O caseiro gente boa até me ofereceu um quarto para que eu me sentisse mais segura, mas o céu e as estrelas daquele lugar me pareceram tão mais bonitos, que eu preferi dormir com essa vista... logo adormeci ouvindo os grilos.
BR 101 - Bahia
(Foto de Arquivo Pessoal)
TEIXEIRA DE FREITAS – BA
As 7h o caseiro já tinha voltado. Fui explorar
o lugar para conhecer a famosa cachoeira com altura de 70m e deparei-me com algo
realmente maravilhoso e exuberante. Gastei algum tempo lá e decidi partir. No
meu roteiro, minha próxima parada seria Porto Seguro. Porém à distância
até lá era quase 550 km, certamente eu não chegaria, pelo cansaço e pela hora
que peguei a rodovia. Já era quase noite quando parei numa pousada beira de
estrada, em Teixeira de Freitas. Parei somente para dormir e talvez esse tenha
sido o lugar que eu tenha ficado mais insegura por estar sozinha, por mim e
pela moto. Embora a pousada tivesse garagem, pus cadeado na roda e levei toda
minha bagagem para o quarto.
(Foto de Arquivo Pessoal)
PORTO SEGURO – BA
Pé na estrada, ou melhor, roda na estrada novamente,
eu tinha pela frente quase 300 km até Porto Seguro. Eu estava muito animada pra
chegar, era um lugar que realmente queria conhecer. Bem, toda a viagem
estava sendo uma experiência incrível na verdade.
Tive uma companheira viajando comigo em alguns
momentos, a chuva. Tipicamente junina. Assim que saí de Teixeira de Freitas,
choveu torrencialmente toda a viagem. Provavelmente o momento mais tenso da
viagem, além da chuva forte permanente e da pouca visibilidade, esta parte da
rodovia estava muito precária, com muitos buracos e sem acostamento. Decidi seguir
viagem mesmo assim, porém um pouco mais devagar. Cheguei a Porto Seguro, dei
uma volta na cidade procurando um camping e o clima da cidade me fez lembrar
Búzios, no Rio. Encontrei o maior camping que já estive na vida, uma verdadeira
cidade para caros motor-homes; logo descobri que se tratava de um hotel/
camping, assim que entrei me deparei com uma superestrutura, o camping tinha
academia, alguns quartos sofisticados e um bar muito estiloso e convidativo que ficava
aberto praticamente 24h.
O camping fica situado em frente a praia,
permaneci 2 dias e meio em Porto Seguro.
Chovia bastante, estive maior
parte do tempo conversando com o uruguaio que administrava o bar. Um sujeito
com muitas histórias para contar, ele era um ex-garçom, coincidentemente de Búzios, que estava
tentando manter seu próprio negócio em Porto Seguro com seu amigo, também
gringo. Posso dizer que nunca vi um trabalho tão delicado como o que ele fazia
naquele bar, e ele servia apenas lanches e drinks. Fiquei um pouco
impressionada com a qualidade. Entre uma conversa e outra com meu novo amigo,
sempre tinha algum hóspede querendo saber detalhes da minha viagem. Era a
oportunidade de contar e escutar muitas histórias, coisa que eu adoro.
Bahia
(Foto de Arquivo Pessoal)
ILHÉUS – BA
Essa foi uma parada só para
dormir, procurei camping quando cheguei, mas fiquei com a impressão que as
pessoas nem sabiam o que era. Dei uma volta na praia pra verificar se seria
possível dormir com a minha barraca, mas não me pareceu seguro. Achei uma
pousada. Minha bagagem estava toda molhada, e eu pude ficar a vontade para
organizar e secar tudo.
Sana - RJ
(Foto de Arquivo Pessoal)
SALVADOR – BA
Já tinham se passado 8 dias na estrada e eu
estava bem ansiosa para chegar em Salvador. Saí cedo da pousada, fiz metade do
caminho e em uma dessas paradas para abastecer, fiquei sabendo que havia o
ferryboat não muito longe dali, que atravessa pessoas e veículos. O meu corpo
já estava bem cansado da viagem e eu decidi não mais pilotar, pelo menos até Salvador.
Embarquei no ferryboat. Até chegar à capital fui conversando com um
motociclista que tinha rodado 1000 km só naquele dia, wtf! Cheguei à Salvador
com uma vista maravilhosa e um pôr do sol igualmente maravilhoso.
Desembarquei no porto e Salvador se mostrou
imponente. Eu tinha subestimado o tamanho daquela cidade, eu não fazia ideia
onde estava. Meu GPS com pouca carga, sexta feira à noite e enquanto eu
pilotava tentando me encontrar, me descobri no meio de um trânsito absurdo, ruas
esburacadas e pela velocidade com que o trânsito fluía, a bagagem na moto
tornou-se muito mais pesada. Na época, o único lugar que eu conhecia bem era o
Farol da Barra e arredores. Eu precisava chegar ao camping que ficava em Stella
Maris e já tinha rodado muito sem encontrar o caminho. Até que eu parei em um
posto de gasolina e um motociclista foi me conduzindo para avenida que me faria
chegar em Stella Maris. Depois de alguns quilômetros decidi parar no primeiro
motel que eu encontrei, fui informada que eu estava em Itapuã. Era sexta feira
e eu estava em Salvador. Descarreguei minha bagagem, tomei um banho e fui para o Rio
Vermelho. Como não conhecia muitos lugares, decidi conhecer a San Sebastian,
porém eu tinha chegado bem antes de abrir. Fui andando pela orla a procura de alguma bebida
para matar o tempo, quando conheci a Caythi e a Bia. Elas foram muito gentis
com a viajante aqui e tinham aquele sotaque irresistível de fofo. Eu fiquei ali
naquela conversa agradável por quase 1h e elas foram embora, e eu disse que talvez
voltasse por Salvador para reencontrá-las.
Na San Sebastian aconteceu uma coincidência
louca, conheci o querido Augusto e depois dele ter sido super atencioso, ter me feito
companhia durante toda noite e da gente ter se divertido, descobri que ele era
amigo dos meus amigos no Rio. Acho que a possibilidade disso acontecer
novamente é 1 em 1 milhão. Bem, não preciso dizer que foram muitos encontros
depois, no Rio e em Salvador.
Salvador - BA
(Foto de Arquivo Pessoal)
ARACAJU –SE
Cheguei no meu destino final, com rodovias e bairros muito familiares para mim. Minha
família não sabia da minha viagem, descobriram quando cheguei. Foram ao todo 9
dias viajando. Bem, permaneci 2 semanas na cidade, tempo suficiente para
descansar, contar todas as aventuras e ser rotulada de corajosa e louca algumas
muitas vezes hehe! Depois de 15 dias eu já estava pronta para voltar. Parei em
Salvador por 2 dias na volta, e as paradas seguintes foram mais rápidas somente
para dormir. Em 4 dias eu já estava no Rio. Eu, minha moto e algumas respostas
que fui recolhendo pelo caminho.
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