Chapada Diamantina - BA
Um
dia desses eu estava em casa, no Rio, ia e voltava com a
leveza de uma pluma, de quem conhece o território, de quem é dono do
pedaço. Já
fazia trilhas nos mais belos morros com a frequência de um atleta.
Trabalho
árduo, não menos prazeroso, estar lá em cima, esquecer do mundo e só
contemplar. Dia desses eu estava
em Aracaju na escola, cidade querida, onde meus maiores desafios era me
dar bem em Matemática, e entender essa nova matéria que acrescentaram no ano letivo chamada
Filosofia hehe! Se no Rio eu não conheço alguns lugares, em Aracaju
isso não acontece. Lembro dos amigos, lembro como
a capital de Sergipe é silenciosa e como visualmente não é poluída, é o momento que
respiro
fundo feliz, querendo voltar. Outro dia eu estava em Floripa, lugar onde
não
conheço nada, lugar onde fiz bons amigos e saí de lá me prometendo morar
em
algum momento da vida. Dia desses eu estava no Capão na Chapada
Diamantina,
onde tive a melhor experiência de estar desconectada do resto do mundo,
não há
sinal de celular, não há wifi. Dia desses eu estava em Dublin com medo
de pegar
ônibus por não dominar o inglês, e hoje me pego rindo como fui boba. Dia
desses
eu estava em Amsterdam, falando inglês de índio para conseguir sair do aeroporto e
pegar o trem para a acomodação. Dia desses eu estava nas montanhas de Wicklow
planejando como montar minha barraca lá e impossibilitada pelo frio.
Eu não sei exatamente onde essa inquietude começou, mas ela
me diz que nossa vida é exatamente essa impermanência. E que estar
confortável em sua terra natal ou em um bom emprego é maravilhoso, mas nem
sempre é sinônimo de felicidade. Que a vida a todo momento muda e talvez nós
não estamos exatamente receptivos a isso. Não digo que a partir de agora não
vamos construir relacionamentos e não mais aceitar cargos, mas que a
consciência de saber que as coisas podem mudar a qualquer momento faz muita diferença. Muitas
vezes, tudo que queremos é controlar nosso ambiente para que as pessoas não
precisem ir embora, para que não sejamos assaltados, para que não fiquemos
desempregados. Fazer da nossa vida um treinamento a partir desses acontecimentos faz
muito sentido. Penso que nosso sofrimento começa quando precisamos de algo,
quando me doei esperando algo em troca, quando fiz uma boa ação, mas tomei nota
para quem fiz. Quando tive momentos incríveis com um ente querido e não entendo que a vida dele
chegou ao fim. Quando conheci alguém, desenhei um círculo para que essa pessoa
se mova somente dentro dele de acordo com as minhas expectativas, que não me
faça sofrer e ainda me faça feliz. Me soa egoísta.
A vida é fluxo como um rio, no momento que você se descreve
com tais características, em seguida você já não é mais. Em um momento você
pode tentar sustentar uma imagem, ser religioso ou empresário, e no momento seguinte
você pode se pegar em contradição, e não querer mais aquilo. Exatamente porque
no sentido da vida há algo maior, que não faz parte das coisas óbvias e sim do
olhar sutil, diferente muitas vezes do que é apresentado como certo durante toda
nossa vida.
E que talvez não precisamos buscar a felicidade ou esperar
um grande momento, ela, a felicidade é possível exatamente onde estamos, com
quem estamos, e com o que estamos fazendo neste exato momento. E que não nos
cansemos de viver pois nunca chegaremos na nossa versão final, ela não existe.
O melhor momento, é agora. Sem tirar nem pôr.