sexta-feira, 6 de maio de 2016

Vida e Impermanência




                                                      Chapada Diamantina - BA

Um dia desses eu estava em casa, no Rio, ia e voltava com a leveza de uma pluma, de quem conhece o território, de quem é dono do pedaço. Já fazia trilhas nos mais belos morros com a frequência de um atleta. Trabalho árduo, não menos prazeroso, estar lá em cima, esquecer do mundo e só contemplar. Dia desses eu estava em Aracaju na escola, cidade querida, onde meus maiores desafios era me dar bem em Matemática, e entender essa nova matéria que acrescentaram no ano letivo chamada Filosofia hehe! Se no Rio eu não conheço alguns lugares, em Aracaju isso não acontece. Lembro dos amigos, lembro como a capital de Sergipe é silenciosa e como visualmente não é poluída, é o momento que respiro fundo feliz, querendo voltar. Outro dia eu estava em Floripa, lugar onde não conheço nada, lugar onde fiz bons amigos e saí de lá me prometendo morar em algum momento da vida. Dia desses eu estava no Capão na Chapada Diamantina, onde tive a melhor experiência de estar desconectada do resto do mundo, não há sinal de celular, não há wifi. Dia desses eu estava em Dublin com medo de pegar ônibus por não dominar o inglês, e hoje me pego rindo como fui boba. Dia desses eu estava em Amsterdam, falando inglês de índio para conseguir sair do aeroporto e pegar o trem para a acomodação. Dia desses eu estava nas montanhas de Wicklow planejando como montar minha barraca lá e impossibilitada pelo frio. 
Eu não sei exatamente onde essa inquietude começou, mas ela me diz que nossa vida é exatamente essa impermanência. E que estar confortável em sua terra natal ou em um bom emprego é maravilhoso, mas nem sempre é sinônimo de felicidade. Que a vida a todo momento muda e talvez nós não estamos exatamente receptivos a isso. Não digo que a partir de agora não vamos construir relacionamentos e não mais aceitar cargos, mas que a consciência de saber que as coisas podem mudar a qualquer momento faz muita diferença. Muitas vezes, tudo que queremos é controlar nosso ambiente para que as pessoas não precisem ir embora, para que não sejamos assaltados, para que não fiquemos desempregados. Fazer da nossa vida um treinamento a partir desses acontecimentos faz muito sentido. Penso que nosso sofrimento começa quando precisamos de algo, quando me doei esperando algo em troca, quando fiz uma boa ação, mas tomei nota para quem fiz. Quando tive momentos incríveis com um ente querido e não entendo que a vida dele chegou ao fim. Quando conheci alguém, desenhei um círculo para que essa pessoa se mova somente dentro dele de acordo com as minhas expectativas, que não me faça sofrer e ainda me faça feliz. Me soa egoísta. 
A vida é fluxo como um rio, no momento que você se descreve com tais características, em seguida você já não é mais. Em um momento você pode tentar sustentar uma imagem, ser religioso ou empresário, e no momento seguinte você pode se pegar em contradição, e não querer mais aquilo. Exatamente porque no sentido da vida há algo maior, que não faz parte das coisas óbvias e sim do olhar sutil, diferente muitas vezes do que é apresentado como certo durante toda nossa vida.
E que talvez não precisamos buscar a felicidade ou esperar um grande momento, ela, a felicidade é possível exatamente onde estamos, com quem estamos, e com o que estamos fazendo neste exato momento. E que não nos cansemos de viver pois nunca chegaremos na nossa versão final, ela não existe. O melhor momento, é agora. Sem tirar nem pôr. 



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